NO REINO DA BICHARADA – A FARSA

             NO REINO DA BICHARADA – A FARSA

            Na floresta onde o Elefante reina soberano, habitam diversos bichos que merecem ser mais bem analisados. Alguns pela astúcia demonstrada para estar sempre levando vantagens, outros, pela docilidade com que acatam as ordens vindas do séquito do Rei, mas também de olho em alguma vantagem, e outros ainda, estes, por reunir os dois predicados, são os mais perigosos, pois mostram-se sempre astuciosos e dóceis, quando do seu interesse, mais só trabalham na base do “toma lá dá cá”.

            Dentre os moradores da floresta se destaca a presença de um periquito, bicho destituído de inteligência, mas dotado da incrível capacidade de gravar e repetir vozes de outros bichos e que, por capricho do destino, faz parte do grupo encarregado de fiscalizar a aprovar as regras do reino do Elefante.

            No uso deste predicado, reproduz com perfeição o rugido do Leão, quando rodeado de outros bichos, mas também mia como um gatinho, quando na presença do Elefante.

            Recentemente, com o escândalo da tarja negra, aquela que se encontra colada na pata do Elefante e do Leão, outro bicho que faz parte do grupo encarregado de fiscalizar os atos praticados pelos membros da corte, a Onça, propôs a abertura de uma comissão para apurar a participação de ambos, nas malfeitorias descobertas.

            No princípio, pressionados pelo Gavião, a maior parte dos bichos fiscalizadores, aqueles que comem na pata do Elefante, foram contra a abertura da tal comissão, defendendo que os mesmos eram apenas vítimas de bichos maldosos instalados na oposição.

            Posteriormente, orientados pelo Leão, e com a autorização do Elefante, resolveram apoiar a instalação da Comissão, não da CAV – Comissão de Apuração da Verdade, mas sim da CEG – Comissão me Engana que eu Gosto, cujo objetivo era apenas fazer de conta que algo estava sendo investigado.

            Entendendo que esta comissão poderia render alguma coisa, e julgando-se muito esperto, o Periquito, de imediato se apresentou para ser o presidente, indicando também para fazer parte, a Coruja, que só sabe balançar a cabeça, e o Quati, perito em fingir de morto para levar vantagens.

            Sempre orientados pelo Leão, as audiências realizadas para oitiva de testemunhas, poderiam até ser consideradas hilárias, se o assunto não fosse sério e, ao mesmo tempo, trágico.
            Fizeram grandes encenações, se desculparam com algumas testemunhas, bajularam outras, fizeram questionamentos vazios, inocentes e despretensiosos, abreviaram os depoimentos que poderiam trazer conseqüências indesejáveis, tudo com o objetivo de levar os trabalhos da CEG, ao término pretendido, ou seja, uma grande festa onde todos devem ser declarados inocentes, perseguidos e injustiçados, tal qual o bando condenado pelo escândalo federal chamado de mensalão.

            Foi um oba-oba, principalmente quando o Leão da juba caída foi ouvido, conforme ele mesmo planejou.

            Recebido com festas, tinha até torcida organizada, levou o depoimento preparado com antecedência, inverossímel e repleto de histórias mal contadas.

            O mais hilário foi quando o Periquito, usando da sua linguagem característica para saudar a chegada do Leão, disse que o conhecia bem, que ele era um bicho honesto, cumpridor dos seus deveres, injustiçado por seus inimigos, vítima da oposição e herói da resistência. Igualzinho os partidários do famoso Zé Dirceu berram até hoje, na inútil tentativa de continuar a defendê-lo, mesmo depois de condenado e enjaulado.

            Aliás, neste exato caso, qualquer semelhança entre o Leão da juba caída e o Zé Dirceu, não é mesmo mera coincidência. Acredita-se até que um foi discípulo do outro, mesmo que somente por correspondência.

            Como não existe ração de graça, o Periquito pretensiosamente esperto, está exigindo que lhe seja entregue duas grandes e importantes granjas da corte, como recompensa pelo seu ótimo desempenho na presidência da CEG.

            Por enquanto, como os trabalhos da CEG não foram ainda encerrados, o Elefante e o Leão, fingem concordar com a exigência, orientando o Periquito a divulgar que está sendo convidado para tomar conta das granjas, mas que ainda está pensando e fazendo consultas, para depois então se decidir. Deslavada encenação!

            Com o termino dos trabalhos da CEG, e com a divulgação do resultado combinado, finalmente vai chegar a hora de a conta ser cobrada. Aí o pobre e simplório Periquito vai ter que se contentar em continuar utilizando o poleiro antigo, pois somente então, terá consciência de ter expirado seu prazo de validade como inocente útil. 

            Bem feito, tudo é conseqüência de recíproca desconfiança, e do excesso de otimismo de um simples Periquito, em sonhar que, um dia, poderia ingressar no hermético grupo de bichos da corte com livre acesso ao consumo de ração, em especial daquelas, criminosamente desviadas dos silos públicos, portanto, pertencentes a todos os bichos da floresta.
            Sem dúvida, existe muita coisa podre no reino da bicharada, enganosamente e a duras penas, disfarçadas em farsas, mentiras e dissimulações.

                                                           Dejair Flávio de Lima - Advogado e Jornalista.

Comentários

  1. fidelíssimo este texto maravilha muito mas muito bom mesmo!

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  2. Muito bom.
    Quem leu entendeu, muita farça e enganação no mundo da bicharada

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  3. Retrato fiel do cenario politico araguarino e seus bastidores. Gostei espero os proximos capitulos.

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