O ódio está no ar
Chama a atenção, nos últimos 12 meses, a ocorrência de
episódios nos quais figuras eminentes do PT são hostilizadas em ambientes
públicos. O caso mais recente envolveu o ministro do Desenvolvimento Agrário,
Patrus Ananias, em um conhecido bar de Belo Horizonte. Pacífico como poucos e
nunca relacionado em qualquer dos escândalos de corrupção de seu partido,
Patrus pagou pelo extremo grau de desgaste que atinge o PT, o que configura
mesmo uma onda de ódio contra o partido.
Na recente história democrática brasileira, Governos
impopulares não são incomuns: José Sarney, por exemplo, amargou baixíssimos
níveis de aprovação enquanto a inflação anual se media com quatro dígitos. Por
uma crise econômica muito mais modesta, entretanto, Dilma Rousseff se tornou
unanimidade na rejeição popular. Não se pode imaginar, assim, que a corrente
antipetista tenha origem apenas na frustração nacional devido aos índices
gerais de emprego e consumo.
Ao mesmo tempo, também não faz sentido crer na interpretação
divulgada por lideranças petistas, segundo as quais as elites nacionais são
responsáveis pelo atual humor político. Nesse complô imaginário, essas elites
teriam orquestrado praticamente uma rebelião popular por puro despeito, já que
a população de baixa renda passou a frequentar aeroportos e universidades,
espaços anteriormente exclusivos dos mais abastados. Essa ideia não apenas
torna vítima indefesa um dos partidos mais ricos e poderosos que o País já viu
nas últimas décadas, como também superestima o poder dessas supostas elites.
Trata-se, afinal, de uma simplória tentativa de se gerar apoio político a
partir do contexto desfavorável atual: algo como um apostador que, diante do
azar no jogo, decide dobrar suas apostas.
Assim, é na estratégia política recente do PT que se deve
buscar as raízes do atual ódio antipetista. O conceito de luta de classes, tido
como inevitável por Karl Marx no século 19, foi reduzido pelo PT a um refrão de
torcida de futebol, usado para reunir apoio a Dilma enquanto essa perdia popularidade
junto à classe média. A lógica era a de garantir o apoio da população de baixa
renda, fomentando nessa uma aguda rivalidade em relação à classe média. Nesse
embate, lideranças como Lula se colocaram como defensores heroicos dos
despossuídos. O ódio, afinal, foi solto ao ar em grandes proporções, na
expectativa de que essa fúria poderia ser domesticada e controlada a favor do
PT.
Com ânimos acirrados, bastou que a crise afetasse o bolso
dos mais carentes para que desertassem em massa do campo governista. A
exaltação dos ânimos se voltou contra quem a incentivou. A estratégia petista
partiu também de um risco potencializado pelo alto grau de exposição que o
partido obteve na última década: o PT se tornou vítima de sua própria
onipresença quando as coisas começaram a dar errado no Brasil. Patrus Ananias,
manso bocaiuvense, sentiu injustamente o peso de todo esse contexto em seu
momento de lazer, uma vez no ar, o ódio não escolhe suas vítimas.
Paulo Diniz
Bacharel em Relações Internacionais (PUC Minas)
Bacharel em Administração Pública (UFU)
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